A Neurociência tem revelado avanços fundamentais que impactam diretamente as práticas pedagógicas, ajudando a compreender como o cérebro aprende e quais estratégias podem ser utilizadas para potencializar o rendimento dos estudantes. A aprendizagem, longe de ser um processo uniforme, é marcada por diferenças individuais e influenciada por múltiplos fatores cognitivos, emocionais e sociais.
Plasticidade cerebral e singularidade da aprendizagem
Imagine a aprendizagem como uma escada que precisamos subir. Cada degrau representa um novo desafio cognitivo ou emocional. Para que a subida seja eficaz, os degraus precisam ser proporcionais ao nível do aprendiz:
- Se o degrau for muito baixo, não há desafio e o cérebro não é estimulado a mudar ou crescer.
- Se o degrau for muito alto, o desafio se torna inacessível, causando frustração e desmotivação.
O cérebro depende de desafios equilibrados para ativar a neuroplasticidade, ou seja,a capacidade do cérebro de modificar suas conexões neuronais em resposta a estímulos ambientais e experiências. Não se trata apenas da quantidade de neurônios, mas da qualidade e riqueza das conexões sinápticas estabelecidas ao longo da vida. Cada indivíduo constrói um padrão único de conexões, fruto da sua história pessoal, o que justifica as diferenças nos ritmos e estilos de aprendizagem.
O segredo está em planejar os degraus certos para cada fase da aprendizagem, garantindo avanços constantes e sustentáveis. Essa singularidade exige abordagens pedagógicas que respeitem as particularidades de cada estudante e promovam ambientes ricos em diversidade cultural, cognitiva e social, valorizando o compartilhamento de saberes e experiências.
Funções nervosas superiores e o papel das emoções
Aprender envolve funções nervosas superiores como atenção, memória, motivação, emoções e funções executivas (autorregulação, planejamento, tomada de decisão). A inter-relação dessas funções é essencial para um aprendizado significativo.
Em especial, as emoções exercem papel crucial no desempenho acadêmico. O estresse moderado pode favorecer a codificação da aprendizagem ao estimular a plasticidade cerebral, mas o estresse prolongado e intenso prejudica a consolidação da memória e o rendimento escolar, influenciando negativamente a motivação e a capacidade de concentração.
A motivação é o combustível que impulsiona a subida dos degraus da aprendizagem. O neurotransmissor dopamina, ligado ao sistema de recompensa do cérebro, reforça comportamentos persistentes e a busca por novos conhecimentos.
Experiências emocionalmente relevantes tornam a aprendizagem mais significativa e favorecem a retenção do conteúdo. Um ambiente de ensino que valorize essas conexões emocionais potencializa o rendimento dos alunos. Além disso, um clima social positivo, em que o aluno se sente acolhido e reconhecido pelo grupo, ativa sistemas cerebrais de recompensa, aumentando o engajamento.
Estratégias neurocientíficas para potencializar a aprendizagem
Para promover um ensino eficaz, é fundamental ir além da simples transmissão de conteúdos, adotando estratégias que envolvam o estudante de forma ativa e reflexiva. Destacam-se:
- Estimular a motivação intrínseca: associar o aprendizado a interesses pessoais e significados reais para o estudante potencializa a retenção e o aprofundamento do conhecimento.
- Promover a autorregulação e a metacognição: ensinar o aluno a refletir sobre seu próprio processo de aprendizagem, avaliando suas estratégias e ajustando-as para melhorar seu desempenho.
- Utilizar métodos ativos: aprendizagem baseada em problemas, projetos e instrução por pares favorecem a construção coletiva do conhecimento e a sincronia neural entre os alunos, que reforça a conexão e o engajamento.
- Use feedback constante: as recompensas ajudam a reforçar o aprendizado. Ofereça feedback enquanto uma motivação extríncica para auxiliar na manutenção da motivação.
- Gerenciar o estresse em sala de aula: criar ambientes seguros e acolhedores para minimizar o impacto negativo do estresse excessivo e potencializar as interações sociais positivas.
- Valorização da diversidade: considerar os contextos socioeconômicos, culturais e familiares dos estudantes, reconhecendo que esses fatores influenciam diretamente as condições para o aprendizado.
Conclusão
A Neurociência oferece subsídios valiosos para a educação, destacando que a aprendizagem é um processo complexo, dinâmico e individualizado. Para potencializar o rendimento, é necessário integrar conhecimentos sobre neuroplasticidade, funções cognitivas e emocionais às práticas pedagógicas, sempre promovendo a participação ativa dos estudantes e um ambiente que favoreça a motivação e o desenvolvimento saudável do cérebro.
Compreender esses aspectos é essencial para educadores que buscam transformar a aprendizagem em algo significativo e duradouro, contribuindo para a formação de indivíduos críticos, autônomos e preparados para os desafios contemporâneos.
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Referências
COSTA, R. L. S.. Neurociência e aprendizagem. Revista Brasileira de Educação, v. 28, p. e280010, 2023.